terça-feira, 29 de junho de 2010

Bubble Gum



Poderia dizer que esse livro é como qualquer outro que já li, mas não é. "Bubble Gum", da polêmica autora francesa Lolita Pille, combina dois temas clássicos da literatura: o da incoerência ultrajada e o do pacto faustiniano com o mal. O livro conta a história de dois personagens que se encontram e se confrontam. Manon, uma jovem de 21 anos, bonita e entediada, que sai do sul da França para tentar a vida como modelo em Paris, começando como garçonete; e Derek Delano, herdeiro de uma multinacional do petróleo, aristrocata blasé cujo maios prazer é comprar e manipular as pessoas em jogos cruéis. Atraído por Manon, Derek é seduzido pela idéia de corrompê-la, de estragar seu destino. Afinal de contas, numa vida esvaziada de sentido, a destruição de um ser inocente é um projeto de vida que faz tanto sentido quanto qualquer outro. Manon entrega sua alma e também seu corpinho , naturalmente, a Derek, em troca do brilho enganoso dos refletores. Graças a ele Manon realiza o sonho de brilhar como modelo e atriz, mas ao preço da dependência de antidepressivos, cocaína e outros vícios. As fotos de seu rosto nas capas de revista são o atestado de que Manon existe e é vencedora. Até que Derek decide terminar com a brincadeira, O tombo se confunde com a paranóia, a alucinação, o alcoolismo. A decadência, tão rápida quanto a ascensão, só é compensada pelo desejo de vingança, que fará Derek se tornar a vitíma de seu própria plano, na verdade, de seu próprio 'roteiro', a ser seguido a risca.
"Bubble Gum" é um romance sobre a manipulação, onde Lolita Pille constrói uma narrativa mais complexa do que parece, avessa a clichês e permeada por uma crítica sutil aos valores da sociedade contemporânea. Tudo muito descritivo, intercalando um capitulo sobre a visão de Manon e outro sobre a de Derek. História intrigante, onde é difícil até pro leitor diferenciar o limite do real e do virtual. Como sempre, um bom livro com final mais do que surpreendente. O livro chega ao final, mas a história continua passando em sua mente, como se fosse um filme.

"Este aqui recebeu de mim o título de Bubble Gum, porque tudo nele parecia oco, rosa e pegajoso: cenários, argumentos, emoções e até os próprios personagens, inclusive eu, eram ocos, rosa e pegajosos, à beira de estourar, e aquilo que perseguiam, a sacrossanta redenção, a sacrossanta celebridade, se tornava, durante as pseudofilmagens do não-filme, tão oco, rosa, banal e breve como uma pequena bola de chiclete, a qual acabaria inexoravelmente explodindo na sua cara." [trecho do capitulo 16 - Não-cinema/ pág. 210]

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